sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Oração gera Oração
Fim de 2010 - Confiança!
FIM de 2010 - Destruição!
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Pobreza Urbana e Abubacar
Faz tempo que só penso em escrever, mas nunca realmente venho no meu blog e concretizo o pensamento, mas hoje foi um dia bem interessante, então não posso deixar de escrever.
Os planos de hoje começaram na semana passada... na verdade foi bem antes disso...
Para quem já viveu em Inhaminga, o "meio do mato", onde quando não chove 70% da população passa fome, pobreza não deveria ser novidade. Mas o impacto que a pobreza urbana tem sobre meu coração atinge dimensões tão grandes que ele fica bem apertado, quase querendo sumir dentro de mim. É certo que o povo das zonas rurais trabalha duro, anda longas distâncias, passa necessidades, tem uma vida sofrida. Mas tem algo sobre "o mato" que é sempre reconfortante para mim... não sei se é a linda natureza ao redor, se é o senso de família e comunidade que ainda existe... ou talvez seja somente a ausência de montes de lixo! Acho que é isso!
Os aglomerados das cidades, o barulho, a falta de privacidade, os maus cheiros, o lixo por toda parte, a falta de segurança... sempre me fizeram querer distância delas.
Quando Deus me trouxe para Nacala, meu maior conforto era que a escola ficava 7km da cidade e no campus à beira do mar, ainda podemos ter aquele gostinho de "no meio do mato", ou fora da "civilização".
Mas a necessidade sempre nos levam prá dentro, pro centro, pra o meio daquela muvuca toda! O que fazer? Cada vez que vamos é o mesmo confronto... crianças pedindo, crianças guiando cegos pedindo, velhos pedindo, velhos cegos pedindo!
No início você não sabe o que fazer. Às vezes dá, às vezes não! Quando dá se sente mal pois sabe que não é de uma moeda que aquela pessoa precisa. Quando não dá, se sente pior pensando se aquela pessoa chegará a comer naquele dia! Não tem como acertar!
Aos poucos você descobre que se der para um, logo uma multidão te persegue, como abutres sobre uma carcaça parecem pensar: "Carne nova no pedaço, vamos aproveitar!"
Nesse ponto você já está perdendo a paciência, porque no meio dos pedintes, há sempre os ladrões e, mesmo os que não são, serão se você bobear por um segundo. Você para de dar por completo. Você descobre que se for bem estúpido com todos, nunca der nada a ninguém, aos poucos você é menos importunado, consegue fazer suas coisas com mais rapidez. Mas algo mais acontece: você deixa de enxergar pessoas, passa a ver vultos, números, obstáculos... tudo, menos pessoas.
Então um dia você acorda e descobre que mesmo que tenha chegado àquele lugar para ajudar as pessoas, seu coração já está duro como pedra e sua atitude não está ajudando ninguém.
Mas então? O que fazer?
Eu pessoalmente passei por cada uma dessas fases. Por fim entendi que tenho que estar atenta ao Espírito Santo. Não tenho obrigação de dar nada a ninguém, mas também não sou proibida. Devo ouvir aquele sussurro dentro de mim, prestar atenção para onde está apontando e acima de tudo, acima de qualquer outra coisa: OLHAR E VER PESSOAS!
Quando isso aconteceu, eu não mais via ladrões e pedintes. Eu passei a olhar profundamente e ver quem estava à minha frente. Isso mudou tudo...
Passei a ver os velhos, que realmente não tem como trabalhar. Jesus falou que os pobres sempre teríamos conosco... esses velhos são essa classe de pobres!
E passei a ver as crianças... os adolescentes! Eles estão por todas as partes da cidade. Os pequenos fazendo carinha de fome, pedindo uma moeda, querendo olhar o carro, ou limpar seu vidro com um pano sujo.
Aos poucos eles deixaram de ser apenas “crianças” para mim... passaram a ser: Abubacar, Cinaro, Sanito. Cada um com seu sorriso, sua personalidade própria, seu pedido, sua história (cheia de mentiras, na maioria das vezes).
Abubacar foi o que mais me conquistou. Ele tem mais ou menos 9 anos, é muito esperto e sempre corre quando vê meu carro. Deixei ele vigiar meu carro algumas vezes e sempre o encontrei de volta quietinho, olhando para o carro. Ele perguntava meu nome, onde eu morava, se podia ir comigo. Eu sempre esquinava e fazia as mesmas perguntas de volta para ele. Ele me falava que não tinha pai, não tinha mãe... eu sabia que não era verdade.
Aos poucos, mais do que apenas ver, eu passei a me preocupar, realmente me importar. Qual seria o futuro dele? O que ele vai se tornar, vivendo assim na rua? Um bandido, como tantos outros que já existem? As perspectivas não são boas para o lado dele... sem estudo, sem uma habilidade... sem emprego, sem dinheiro! Mesmo como bandido, a concorrência é bem grande em Nacala!
Passei a procurar por ele e levar ele comigo, onde eu fosse “para vigiar meu carro”. Nos intervalos entre uma loja e outra, eu perguntava mais coisas e tentava descobrir qualquer resposta verdadeira.
Por fim, esse ano, decidi tomar um passo a frente. Mas primeiro, calculei o custo.
Tantos precisam de ajuda... mas ainda assim, poucos realmente tomam a mão estendida e realmente a usam para o bem, para sair do lodo e mudar de vida. Mas se não começarmos com um, se não acreditarmos em ninguém... que diferença faremos?
Pesei na balança e decidi seguir em frente.
Combinei com Abubacar de visitar sua casa algum dia. Até aí, ele já tinha reconhecido ter uma mãe com quem morava. Não deu certo o dia que combinamos e, segundo ele, ele ficou toda manhã esperando e pensando: “Essa senhora não está bem, falou que vinha e não veio!” Outro dia procuramos por ele em toda cidade e nem sinal!
Sexta passada, eu ia com Rito (um dos professores) conhecer algumas escolas para ele decidir onde ia estudar no ano que vem... e encontrei Cinaro (outro menino de rua). Visitei a família dele, descobri que tem pai, mãe e 4 irmãos. O pai é bem simples e sem estudo. Vivem no mais baixo da pobreza urbana que descrevi acima... é de doer o coração.
Na mesma manhã, encontrei Abubacar na rua de novo. Ele me levou para conhecer sua casa. É vizinho de Cinaro! Sua mãe reclamou comigo que ele não se comporta, não ajuda muito em casa e sempre foge prá cidade. Às vezes traz algumas moedas para ajudar em casa, mas nunca é muito. Não toma banho. Dei-lhe uma bronca. J
Nenhum deles vai à escola (Cinaro e seus 2 irmãos com idade de estudar e Abubacar). Ninguém tem documento, nunca foram matriculados... mas a escola está a menos de um minuto andando da casa deles! Combinamos de nos encontrar na escola essa semana para irmos juntos ao registro fazer os documentos.
Chego na escola essa manhã... Abubacar vem reclamando na minha direção: “Eu fiquei a procurar... onde está essa senhora?”, mas o sorriso radiante me mostra que ele não está nem um pouco chateado. Encontro sua mãe, também pronta prá ir para o registro. A outra família é um pouco mais complicada, mas reunimos todos e lá vamos nós para o registro.
Enquanto ando nesse bairro, em meio a picadas de areia, cheeeeias de lixo, olho ao redor e penso: “No Brasil, eu estaria preocupada de entrar num bairro assim de carro. Ficaria vigiando para ver se não deparava com traficantes, ou coisa do tipo. Aqui, estou num bairro normal. Há casas grandes, feitas de cimento com telhados de chapa... isso é classe média. É verdade, há casinhas bem pequenas e ‘marfanhadas’, mas não dá medo!”
Nada dá certo no registro PORQUE NENHUM DOS PAIS TEM DOCUMENTO!!! Que situação bizarra! Mas é a realidade daqui! Lá vamos nós tentar providenciar documentos para os pais, para que os filhos possam tirar os seus e então estudar no ano que vem!Mas o que fez meu dia foi a mãe de Abubacar encorajando a mãe de Cinaro quando alguém diz que os filhos dela, mesmo que matriculados vão fugir da escola: “Desde o dia que ela foi lá em casa, Abubacar tomou banho todos os dias e até penteia o cabelo! É possível o coração mudar!”
Quero ser guiada por Seu Espírito, Senhor!
Quero vê-los como Tu vês!
Quero seguir os passos de Jesus
E amá-los com Teu amor!
Quero que eles saibam que Tu os amas,
Quero ver seus futuros transformados!
Sei que em mim não tenho poder,
Mas Tu és Aquele que transformas corações!
sábado, 11 de setembro de 2010
Viv Grig - missionário que treina obreiros para atuar em favelas
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Idugo e a Fidelidade de Deus
Enquanto estávamos lá, ouvimos sobre uma ilha perto da costa chamada Idugo. Nos contavam que nessa ilha não existia sequer um cristão e que muitas pessoas viviam ali sem nunca terem ouvido o nome de Jesus. A cada conversa que tínhamos sobre a ilha, mais interessados ficávamos em visitá-la. Por fim marcamos dois dias para pelo menos conhecer a situação real da ilha.
A viagem foi longa e difícil, pois a maré estava baixa quando chegamos de barco e tivemos que andar 5 horas com todas as coisas até o lado povoado da ilha. No caminho encontramos uma senhora que nos disse haver uma pequena congregação católica ali e gentilmente nos acompanhou até a casa do líder.
Esse líder nos recebeu imediatamente com muita hospitalidade, sem nada perguntar depois de ouvir que éramos cristãos. Serviram-nos água para tomar banho, uma refeição e só então ele começou a nos perguntar de onde viemos, quem éramos e o que queríamos fazer ali.
Conforme conversávamos com ele, pessoas juntavam-se ao nosso redor e em breve tínhamos uma platéia de pelo menos umas cem pessoas ouvindo. Pregamos o evangelho, contamos nossos testemunhos e eles nos fizeram muitas perguntas.
A noite, após o jantar todos voltaram novamente com mais perguntas. Nós estávamos exaustos depois da longa caminhada da manhã e nos revezávamos dormindo e conversando com o povo (enquanto uns conversavam, outros dormiam hehe)! Na manhã seguinte, muito cedo voltamos para Pebane, mas certamente deixamos um pedaço de nossos corações ali.
Depois dessa viagem passei dois anos no Brasil e, mesmo depois de voltar para Moçambique em 2007, nunca mais tive a oportunidade de chegar a essa ilha. Mesmo assim, nunca me esqueci deles. Sempre orei para que Deus enviasse alguém para pregar para eles.
Na verdade, enquanto estava no Brasil em 2005 e 2006, decidindo se voltaria a Moçambique ou não, a ilha de Idugo estava constantemente em minha mente e a memória daquele lugar foi um dos fatores determinantes para meu retorno. Lembrar que em Moçambique existem inúmeros lugares como aqueles, de pessoas que nunca ouviram o evangelho explicado para eles, lugares de difícil acesso e extrema necessidade em todas as áreas.
Há uns dois anos ouvi que um casal de jovens moçambicanos cristãos havia sido enviado para viver nessa ilha para através de suas vidas brilhar a luz de Jesus para aquele povo. Eu não tinha mais informações e não sabia se eles ainda estavam lá. Hoje vi esses vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=ZhYv7oJFS5k
http://www.youtube.com/watch?v=2LWUc7as758
e assisti um outro vídeo que não está no youtube, mas fala sobre a visita de outros brasileiros para encorajar esse casal e inaugurar poços de água ali.
Como Deus é fiel! Muitas vezes as necessidades são muito maiores do que nossa capacidade... ainda assim, Deus nos chama para orar, orar, clamar, falar da necessidade para outros que possam ser tocados e orar ainda mais...
Algumas vezes Deus nos permite ser a resposta da nossa própria oração! Outras, Ele levanta outros para suprir as necessidades, mas nos permite ver o nosso sonho realizado por outras mãos e pés! Ainda outras, nunca ouviremos sobre o resultado de nossa oração!
Mas independentemente do que aconteça... quero continuar orando, clamando, falando e obedecendo a Deus a cada passo... porque os resultados são eternos!
Continuo orando para que Deus desça com avivamento sobre a ilha de Idugo. Que eu saiba, ninguém ainda entregou sua vida para Jesus, mas eu creio que uma grande colheita está por vir naquele lugar! E quero fazer parte daqueles que gerarão isso, seja só por oração ou por ações guiadas pelo Espírito!
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Papai fala através do arroz!
Em Cuamba, numa manhã um pouco fria, toda equipe estava sentada em círculo, aquecendo no calor do sol e papeando, enquanto esperávamos a água esquentar para o chá do matabicho (café da manhã).
Como geralmente acontece quando pessoas famintas esperam comida, começamos a falar de diferentes comidas que gostávamos e eu logo falei minha favorita "do mato": "Eu amo 'arroz da machamba' (arroz orgânico, bem fresco, recém tirado da plantação)!!"
Outros da equipe concordaram e eu fiquei sonhando com o cheirinho maravilhoso que minha memória puxava de tempos passados!
Em menos de 15 minutos, Rosalina pediu licensa no quintal:
"Odi"
"Odini", respondeu alguém no nosso meio.
A menina toda cheia de vergonha caminhou um pouco para frente e alguém logo recebeu o que ela carregava na peneira sobre sua cabeça.
"É arroz da machamba!!!!" Eu nem conseguia acreditar! Foi incrível! Como Deus pode ouvir pequenos desejos do fundo do nosso coração, coisas tão simples e torná-las reais?!
Parece que essa é a forma que Ele escolhe para dizer:
"Minha filha, te amo! Ouço cada anseio do seu coração e me importo com eles. Veja, se ouço até o mais simples e posso responder com tanta rapidez, nunca duvide que ouço os mais profundos e responderei no tempo exato!" Meu coração se aqueceu, até nem precisar mais do calor do sol!
sábado, 15 de maio de 2010
divagando no passado
Não tinha um filme bom para assistir, não tinha mente para ler meu livro, nem tinha comida em casa para comer (preguiça de cozinhar, confesso)! E para piorar, nem a Dora estava aqui prá gente prozear! hehe...
Então, comecei a reler posts antigos (2005/2006)! Fiquei impressionada pq, 1. muita coisa não mudou! As coisas se repetem, revelações se renovam, mas tudo no fim, tem um mesmo princípio! hehe Mas 2. Hey, como eu pensava que sabia de tudo! kkkk acho que ainda devo ser assim, mas olhando o passado, acho que fica mais claro e notório! Eu explicava tudo, tinha teoria para tudo! Creio que depois de alguns tombos da vida, pauladas mesmo, não sou mais tão "sabe-tudo confiante"! Apesar disso, sou confiante em quem sou... só não sei qual é minha opinião sobre as coisas mais! hehe...
Será que isso é bom?
Sei lá!
Culpa, medo, condenação.... ou simplesmente AMOR?
Jesus, mesmo antes da cruz, nunca usou a vergonha ou a culpa para produzir qualquer coisa em qualquer pessoa. Ele sabia que isso provoca mudanças externas, mas nada real, eterno, no interior. ELe não tem interesse em mudanças externas.
A religião tenta conformar cada pessoa ao todo, através de recursos como esses (vergonha, medo e condenação). Por isso tuo o que ela produz é vazio, oco, falso e hipócrita.
Cristo usava somente uma coisa: O AMOR! Pois ele sabia que só um relacionamento de amor com ele nos levaria à transformação do nosso interior, no mais profundo do nosso ser. Isso era tudo o que ele queria.
O resultado podia não ser tão simples, rápido e visível, mas certamente seria real!
A história de Pedro o negando mostra-nos isso. Jesus permitiu que Pedro o negasse, mas mesmo antes que acontecesse lhe deu sua palavra, para que ele não desfalecesse quando o tempo chegasse, mas soubesse que ele ainda continuava a amá-lo. Se fosse eu, tentaria poupar Pedro de tão grande erro, tão grande trauma. Mas Ele não o poupou. Pois isso seria religião, conformidade exterior e não era isso que Ele procurava ou desejava.
Pensando no Amor de Deus
Teu amor é incomparável,
Não há outro amor!
Teu amor não muda
Mas teu amor nos mudar
Teu amor nos transforma
Pela força do Teu Poder!"
Às vezes pensamos no amor como algo suave, doce e por isso concluímos que o amor é algo fraco. Mas Deus escolheu esse único meio para nos salvar e nos fazer voltar à sua imagem perfeita. Por que Ele escolheria o amor senão porque Ele sabia que não há poder maior, não há nada mais poderoso do que isso: o amor!?
O que a polícia, a lei, o chamboco não conseguiu, o amor pode fazer!
O amor é mais forte que a bomba atômica.
Ele nos transforma de dentro para fora e ao nosso redor!
Enquanto estávamos separados de Deus por nosso pecado, o amor de Deus nos alcançou e nos trouxe de volta. Quem nos separará do amor de Deu? Se nada é mais forte do que ele e nem mesmo o pecado pôde nos manter afastados dele!?
"Fazer Missões" ou "Andar com o Pai"
Sou privilegiada em que meu relacionamento de amor com Ele me trouxe para andar em Moçambique. E nunca quero perder de vista a razão pela qual estou aqui! Não é para "produzir" muitas coisas, apesar de que andar com Deus sempre produzirá muitos frutos. Mas é andar no relacionamento de amor e obediência a Ele. Aprender a confiar nele em cada passo, em cada dia e desfrutar das mudanças que a presença dEle acarreta!
Teu amor nos transforma, Senhor!
sábado, 13 de março de 2010
Prático x Místico na vida missionária
Já disse que para cada missionário pregando/discipulando/ensinando/orando no campo há pelo menos três outros cuidando das coisas práticas para que isso possa acontecer. Posso agora dizer que mesmo aquele que prega/discipula/ensina e ora inevitavelmente passará por fases em que precisará lidar com o dia a dia da logística quase de forma integral! E isso também faz parte de ser missionário!
Um exemplo prático foi essa semana que passou!
Sabendo há algum tempo que minhas carteiras de motorista brasileira e internacional estariam expirando, buscava maneiras de renová-las sem ter que voltar para o Brasil (fora de questão)!
Foi só há uns 10 dias que descobri ser possível trocar a brasileira por uma moçambicana com validade de cinco anos! Eba, mãos à obra!
Segunda passada Dora e eu fomos para Nampula.
Missão: conseguir todos documentos necessários para a troca, consertar algumas coisas no carro e fazer algumas compras para casa e para construção.
Tempo disponível: um dia e meio!
Saída de Nacala 6h da manhã. Chegada a Nampula: 8h. Início das atividades: 8h mesmo!
Manhã toda em escritórios, secretarias, bichas (como chamam as filas aqui) longas e demoradas. Era Dia da Mulher e todas as queridas trabalhadoras estavam na praça para as comemorações, enquanto os pobres homens tentavam fazer o trabalho de três ao mesmo tempo. Fiquei feliz em ver que existia uma fila especial de mulheres, com atendimento preferencial, mas isso não adiantou nada nas longas chamadas para receber de volta documentos autenticados, notariados ou sei lá o que!
Duas horas foi o tempo que algumas chamadas demoravam! Duas horas... tempo suficiente até para conhecer várias das outras centenas de pessoas esperando, conversar sobre política, família, se mulheres deviam trabalhar em orgãos do governo ou não, quem é mais infiel na tribo makua (os homens ou as mulheres) e assim por diante.
O fim das duas horas me encontraram sentada no encosto de um banco de madeira, com uma senhora sentada no banco a minha frente, usando minhas pernas como encosto, minhas costas bronzeadas com o sol esturricante (ou seriam queimadas), faminta e cansadíssima! Enfim as 16h terminamos... todo choro e sensibilização acabados.
É, tem que sensibilizar para conseguir qualquer coisa feita aqui em Moçambique. Devem haver outros métodos, mas é esse o que consigo usar. Vou ao agente de imigração e com cara de dó digo: Por favor, senhor, preciso muito da sua ajuda! Não sei o que farei se você não me ajudar. Deixei meu Dire (Documento de Residência) aqui há uma semana, mas preciso de uma cópia autenticada dele para um documento que vai expirar na semana que vem. Não posso esperar o processo de renovação de vocês. Será que pode encontrá-lo para mim e deixar que eu leve e faça uma cópia autenticada dele e depois traga ele de volta?
Cara feia de volta!
Por favor moço, essa é minha única saída! Não posso fazer mais nada! Prometo que trago ele hoje mesmo!
Espera um pouco, vou encontrar!
Ufa! Mais uma vez a sensibilização funcionou.
Mas isso se repete em cada balcão, em cada escritório, onde se a pessoa do outro lado não for com sua cara seu documento some ou demora um mês, em vez de um dia.
Sensibilização, sensibilização, sensibilização.
Ufa, cansei!
Vamos comer!
Almoçamos, eu e Dora, 16h30, comida indiana! Delícia! Pelo menos isso valeu a pena!
Super esquema para não sermos roubadas na frente do shoprite. Um dia normal de compras do mês.
Mais sensibilização para o guarda do estacionamento do Ideal (outro mercadinho) deixar a gente estacionar dentro, mesmo que já passou da hora permitida, porque deixar o carro do lado de fora essa hora é pedir para não encontrar o retrovisor que restou no meu pobre e abusado carro!
Ufa, mais uma vez a sensibilização funcionou!
Fim de dia, documentos feitos, falta só buscar um de manhã, mas a lista ainda é grande!
Noite de comunhão com nossos colegas de equipe que vivem em Nampula, família Jo! Comunhão tão gostosa que não vemos a hora passar e vamos dormir tardão! Dia seguinte, luta para sair da cama! Ainda assim, vitória. Mais comunhão no café da manhã e combinos sobre o dia. O pastor nos empresta o carro pois o meu ficará no mecânico.
Como costuma acontecer em mecânicos, nada é rápido, nem simples!
O dia vai passando, vamos riscando outras coisas da lista, mas o carro, ainda!
Cancela a aula da tarde porque não vou voltar a tempo!
Buscamos os vidros que pedimos para cortar, mas os queridos não embalaram nada! Como esperam que vamos levar isso para Nacala, outra cidade? O que custa embalar com caixas de papelão velhas? Só viemos nessa loja pq da última vez fizeram um ótimo trabalho e embalaram tudo direitinho! A senhora pensa que vamos voltar aqui de novo depois desse desapontamento. Pode saber que se tem outra loja de vidro em Nampula, vamos achá-la e vocês perdem bons clientes! Ela não importa. E nós lá no fundo sabemos que é muito provável que não haja concorrente, vamos ter que voltar aqui mesmo! O mal de moçambique: um lugar onde a situação ainda é precária, quase tudo é monopólio!
Pegamos os vidros assim mesmo, saímos pelas lojas que nem duas doidinhas pedindo caixas de papelão. Encontramos algumas e lá vamos nós embalar nossos próprios vidros!
Riscamos mais algumas coisas na lista, compra isso para Chris, isso para mãe Nicky, leva esse documento no aeroporto para ser certificado em Maputo e voltar antes da próxima semana!
Ufa, acabamos! E o carro? Ainda!
Já são 16h, não vamos poder voltar para Nacala hoje pois já vai ficar escuro e a estrada está perigosa e nós, muito cansadas. Pastor Armando e Lurdes ficam felizes! Mais uma noite com eles! Nós no fundo também ficamos.
Enfim o carro! O preço é um pouco alto, mas se os problemas estão resolvidos, beleza!
Última noite ali, mais comunhão, próxima madrugada, adeus!
Primeira parada, comprar pimenta (piri-piri) das crianças do lado da estrada! Está muito caro, vamos seguir a viagem!
Que barulho é esse? Não acredito, é o escapamento de novo? Eles não soldaram bem o tubo flexível! E me cobraram tudo aquilo para um serviço terrível? Abro o capô, deixa eu ver a situation!
Não acredito, quebraram uma mangueira do filtro de ar! Se eu não visse isso, de novo meu motor vai pro beleléu! Pronto, amarrando um pano assim, garante que não vai entrar areia até eu chegar em casa!
Chris, tem problema andar com o tubo flexível solto? Não, só os ouvidos!
Sem ar condicionado e um calor escaldante, tem que deixar janelas abertas, mas o barulho e ensurdecedor! Só não é mais alto que os gritos de frustração dentro de mim... o sentimento de ser traída por um mecânico de confiança... a raiva de ter perdido tanto tempo e dinheiro!
Depois que a raiva passa um pouco nos divertimos assustando as pessoas ao lado da estrada acelerando perto delas e fazendo um barulhão! Terrível! Quê qui é isso missionária? Tentando manter a sanidade com um pouco de loucura!
Em casa, inquieta e agitada... reunião da equipe, é bom orar juntos! Estamos orando por essa cidade, essa região, esse país, esse continente (Nigéria, Zimbabwe, Africa do Sul)... quando nos damos conta estamos intercedendo pela volta de Jesus, pelo mundo todo!
Dois dias cheios, escola, emails, casa, construção, reconserto do carro... ajuda a amigos... e assim vai!
Hoje, sábado! Acordo cedo vou arrumar os últimos detalhes do carro num amigo que pediu para ajudar! Como é bom ter amigos! Resolvidos os problemas, para cidade resolver umas questões, comprar algumas coisas para casa e outros da equipe, deixar material de limpeza com empregada de amigos que estão voltando do Brasil, de volta para casa no final da manhã. Arruma isso e aquilo, manda carpinteiros endireitarem tudo o que fizeram torto, vigia trabalho deles a cada 15 minutos para os danos não serem grandes... enfim almoço!
Saindo para reunião de jovens em Muzuane! É, aí a coisa pegou!
Uma tempestade. Ajudo Dora a conter a água que quer entrar por frestras nas portas e janelas. Coloco tudo que quero levar em saquinho ziplock, numa mochila pequena nas costas, capa de chuva e lá vou eu de moto! Ai que delícia, andar de moto na chuva! Um super rally! Tá super divertido!
Até que encontro três homens no caminho estreito no meio das machambas (plantações). Está deserto, só eles e eu. Eu passo pelo meio deles, um deles empurra com força. Eu caio! Eu e a moto. Caio nas minhas costas, em cima da mochila que eles não conseguem ver embaixo da capa!
Os três pulam para cima de mim. Um segura meu pescoço quando eu grito por ajuda. Os outros checam meus bolsos. Não encontram nada! NADA! Tudo está na bolsinha nas costas. Eles todos gritam: Onde está o celular? Onde está o dinheiro?
Está chovendo, não está vendo? Eu saí de casa na chuva, para que trazer celular? – eu fico repetindo. Está chovendo, está chovendo!
De repente dois desistem, seguem o caminho andando. Um ainda desconfiado pergunta: E o dinheiro? Onde está o dinheiro?
Estou indo para igreja, porque ia precisar de dinheiro?
Me levanto, levanto a moto. Eles não queriam a moto?! Por que não levaram a moto? Por que não checaram tudo em mim para ver se não tinha celular na mochila nas costas?
Só pode ser Deus, só pode ser o sangue, só podem ser seus anjos!
Tantas coisas passam pela cabeça, parece que tudo acontece em camera lenta. O que eles vão fazer, o que vão levar, o que vão fazer comigo? O que devo fazer? Ó Deus ajuda!
Mas uma paz sobrenatural, uma paz que me permite levantar, levantar a moto, fazer ela pegar, virar a moto na estrada que mais parece um rio, ir embora com confiança.
Claro que chego na casa de mãe Nicky e desabo chorando no colo dela, mas por fora estou tremendo, por dentro estou em paz.
Não sinto raiva, não quero matá-los, não quero me vingar.
Não sei porque, mas sinto paz. Sei que Ele estava comigo, sei que Ele me guardou e protegeu.
Meu pulso doendo, duas feridas não grandes mas um pouco fundas na perna. Só! Nada mais.
Fazemos boletim de ocorrência na polícia, faço um exame médico e colocam uma faixa no meu pulso. É... alguém não está feliz com minha vida! Mas alguém maior está me vigiando, me guardando, velando por mim!
Quer mais prova de que estamos orando contra as coisas certas? Potestades de violência, roubo, imoralidade que dominam a região. Mas a música volta à minha mente... a música que tem sido tema da minha vida em Nacala, Moçambique:
CAN A NATION BE CHANGED
Matt Redman
Can a Nation be changed?
Can a nation be saved?
Can a nation return back to you?
We're on our knees
We're on our knees again
Let this nation be changed
Let this nation be saved
Let this nation return back to you
We're on our knees
We're on our knees again
E aí? Será que a vida de um missionário é mística/espiritual? Não, ela é prática, é diária, é mãos a obra! Mas ao mesmo tempo cada gesto, cada ação, cada coisa que fazemos tem efeito espiritual e místico! Então, a verdade é que sim, ela é mística/espiritual, mas não da maneira como muitos pensam!
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Mais Chuva
Depois da primeira chuva durante a noite, começou a chover com mais frequência.
A primeira vez que choveu muito durante o dia, cumprimos nossa promessa e fomos dançar na chuva!
Eu e Christa dançamos e brincamos durante 2h e até lavamos o cabelo na bica que formou num lado da casa!
Enchemos baldes e mais baldes com água para beber e usar nos próximos dias! Trabalhamos até! :)
Simona também entrou na festa, mas com cuidado para não ficar doente! :D
Tem chovido continuamente em Inhaminga e as plantações feitas no início de dezembro (últimas chuvas do ano passado) conseguiram se recuperar.
Quem plantou logo no início do tempo chuvoso perdeu tudo!
Alguns tem tentado plantar mandioca e batata doce, que talvez consigam produzir nessa época meio tardia!
Christa tem planos de distribuir comida para as famílias que sofreram mais, para ajudá-las sobreviver esse ano.
Se você tem vontade de ajudar, entre em contato comigo por email (sukanews@yahoo.com).
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Chuva
Como diamantes caindo sobre a Terra as gotas caíram ontem a noite!
Tudo começou com poucas gotas, aí um chuviscar constant e finalmente um grande derramar.
Quantas vezes choveu e eu nem me importei! Quantas vezes eu até reclamei quando chovia num momento que eu queria fazer algo fora!
Essa vez foi diferente! Estávamos orando por chuva por dias, semanas e quase meses!
Olhávamos para o céu muitas, muitas vezes por dia esperando ver nuvens. Quando víamos nuvens, esperávamos que se transformassem em gotas! Mas tudo estava seco. A relva estava seca, numa época que deveria estar muito verde! As árvores estavam tristes! Cada tarde víamos as folhas se enrugando por causa da seca. De manhã tinham um aspect melhor e, assim como as misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã, nossas esperanças eram renovadas de que aquele seria o dia da chuva!
O humor do povo começou a ser afetado. Não somente por causa do calor insuportável, mas a perspectiva de um ano sem chuva. Numa comunidade onde a comida de uma família depende totalmente do resultado de suas plantações primitivas, irrigadas somente pela chuva, quando a chuva tarde, ou não cai, o resultado é um ano de fome, sofrimente e até morte para muitos.
Hoje foi um dia diferente. Cada trabalhador chegou com um grande sorriso e o ânimo geral estava melhor. Choveu! Chuva representa esperança! Representa vida!
Tínhamos prometido que iríamos dançar na chuva na estrada quando enfim chovesse, mas eu estava num profundo sono quando realmente começou a chover. Christa tentou me acordar, mas eu não ouvi nada! Jeosafá estava acordado e tirou algumas fotos! Quando acordei pela manhã porém, havia neblina para todo lado, o que significava intense humidade, algo diferente do dia anterior e das semanas secas que passaram!
Eu sabia que havia chovido muito, mesmo sem que eu tivesse visto!
Obrigada Deus por sua fidelidade!
Obrigada pelas orações.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
2 Samuel 1.19-27
Como caíram os valorosos!
Não o noticieis em Gate,
nem o publiqueis nas ruas de Asquelom;
para que não se alegrem as filhas dos filisteus,
para que não exultem as filhas dos incircuncisos.
Vós, montes de Gilboa,
nem orvalho, nem chuva caia sobre vós,
ó campos de morte;
pois ali desprezivelmente foi arrojado o escudo dos valorosos,
o escudo de Saul, ungido com óleo.
Do sangue dos feridos, da gordura dos valorosos,
nunca recuou o arco de Jônatas,
nem voltou vazia a espada de Saul.
Saul e Jônatas, tão queridos e amáveis na sua vida,
também na sua morte não se separaram;
eram mais ligeiros do que as águias,
mais fortes do que os leões.
Vós, filhas de Israel, chorai por Saul,
que vos vestia deliciosamente de escarlata,
que vos punha sobre os vestidos adornos de ouro.
Como caíram os valorosos no meio da peleja!
Jônatas nos teus altos foi morto!
Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas;
muito querido me eras!
Maravilhoso me era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres.
Como caíram os valorosos,
e pereceram as armas de guerra!