sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Magiga – Encontro de Jovens 2009 – 13 a 16 de novembro

Magiga é uma pequena vila, na província de Zambezia, cerca de 20 km da vila de Pebane. A tribo que vive ali é chamada Munica. Não é uma tribo muito grande, e vive bem concentrada nessa área litorânea. É quase que completamente muçulmana e com tradições fortes.

Em 2004, passamos um mês em Pebane, evangelizando e encorajando os crentes de algumas poucas igrejas da vila. Lembro-me que foram quatro semanas muito difíceis, com muita opressão espiritual e choque para nós que estávamos acostumados a ministrar às tribos do centro de Moçambique, mais dóceis, respeitosas e “cristianizadas”.

Em 2007, voltei para o distrito de Pebane, dessa vez para Magiga, onde dois ex-alunos que trabalhavam como evangelistas na província de Zambezia haviam recém começado um trabalho. Eles decidiram montar sua base ali, depois de orarem durante uma semana, buscando de Deus direção de para onde ir. Nessa mesma semana, Jamilo também orava para que Deus enviassem cristãos para ajudá-lo em Magiga. Jamilo é um cristão, nascido em uma família muçulmana forte em Magiga, mas que conheceu a Jesus enquanto vivia em outro distrito chamado Moma. Quando ele voltara para Magiga, devido às perseguições e dificuldades caíra na fé e começara a usar curandeirismo para se proteger, mesmo sabendo que aquilo não era certo. Um dia, cansado da vida que vivia, orou para que Deus enviasse pessoas para ajudá-lo e na manhã seguinte os evangelistas chegaram a sua casa, procurando um lugar para começarem o trabalho. Quando estivemos ali em 2007 o grupo era bem pequeno e as perseguições eram grandes.

Agora, no nosso regresso, vimos um grupo já crescendo, um terreno mais trabalhado, e ainda muitas perseguições! Há apenas alguns meses um grupo de 30 homens muçulmanos, líderes da comunidade, passou toda manhã de domingo tentando causar confusão durante o culto. Não tiveram muito sucesso e mesmo suas intimidações para que os crentes parassem de envangelizar no mercado surtiram efeito contrário!

Nossa ida para Magiga, no dia 12 de novembro começou muito cedo e planejávamos chegar enquanto o sol ainda brilhava, para que pudéssemos armar nossas tendas e planejar com os líderes locais o encontro de jovens que começaria no dia seguinte. Simona saiu de Inhaminga com quatro jovens obreiros (Josias, Abdul, Santo e Paulo) e chegou a Magiga às 17h. Eu saí de Nacala com Agostinho e Valentim (os dois professores de Nacala), mas depois de 40km de Nampula tivemos problemas com o carro. Consegui voltar até a oficina, mas as lojas já estavam fechando para almoço, então tivemos que esperar até as 14h, para comprar uma peça. A peça foi trocada, mas o problema continuava. Fizeram tudo o que era possível, mas nada mudava. Já estávamos começando a nos conformar com o fato de que teríamos que ficar em Nampula aquela noite e sair só no dia seguinte, quando, alás, descobriram algo simples que poderia estar causando o problema. Em trinta minutos o carro estava pronto e decidimos partir naquela mesma hora, 17h. Parecia um pouco doido sair de Nampula tão tarde, sabendo que chegaríamos em Magiga somente no meio da noite, mas aceitamos o desafio. Toda comida para os dias de encontro, os programas e tudo mais estava comigo e nós não queríamos perder o início do encontro. Além disso, nós três sentíamos uma paz muito grande dentro de nós e sabíamos que Deus estava à nossa frente e que nosso plano (de chegar ainda aquele dia) não era uma aventura maluca e sim um desafio com Deus.

Assim, chegamos a Magiga 1h da madrugada. Exultantes e super cansados, estando fora de casa há 20 horas, oramos com o grupo que já havia chegado e acordou com o barulho do carro e fomos dormir.
Notei que meu carro nunca deu problema quando a viagem é de Nacala para Inhaminga, ou de Inhaminga para Nacala, sem pressa. Mas quase todas as vezes que temos encontros de jovens, algum carro dá problema, mesmo tendo feito todas as revisões e estarmos certos de que tudo está sob controle. Sei que o motivo para isso é que o inimigo não quer de maneira alguma que esses encontros de jovens aconteçam. Ele sabe que quando vamos, não vamos sob nosso próprio nome, mas levamos o nome do Deus Todo Poderoso. Ele sabe o efeito que esses dias têm para os jovens e faz de tudo para que eles não aconteçam. Mas graças ao nosso bom Deus, sempre chegamos bem e os encontros acontecem cheios de graça e unção. Nem mesmo a nossa paz o inimigo é capaz de roubar!

Cerca de quarenta jovens de 3 igrejas participaram dos três dias de encontro. O tema era “Levando Deus a Sério” e enfatizamos bastante a perseverança em meio às tribulações e perseguições, pois essa é uma realidade muito próxima a eles.

Em duas tardes, dividimo-nos em grupos. Cada grupo tinha alguém da equipe, um ex-aluno das escolas bíblicas que vive ali e dois outros jovens. Saímos por toda vila, visitando pessoas em suas casas e falando de Jesus para quem estivesse disposto a ouvir. Encontramos várias pessoas que ao ver-nos fechavam a cara, guardavam o que estavam fazendo e mandavam-nos embora, muitas vezes com insultos. Por conhecer quem são os cristãos locais e serem muçulmanos bem fortes, nem queriam nos ver. Mas cada grupo encontrou pessoas abertas.


Nosso grupo encontrou uma mulher que há dois meses não ia mais a mesquita, nem ela , nem o marido. Eles não têm filhos e muitas vezes ela se entristecia por não ter ninguém ajudando-a no serviço de casa. Quando chegamos, um dos jovens do grupo, imediatamente começou a pilar a mandioca seca que encontrou ao lado da casa, sabendo que aquele deveria ser o jantar da família, então, enquanto conversávamos, ele pilava. Depois de explicarmos o evangelho para ela, ela disse: “Eu não sabia porque tinha parado de ir a mesquita há dois meses, mas agora entendo que Deus estava me preparando, porque Ele quer que eu siga outro caminho. Eu sempre chorei por não ter filhos para me ajudar, mas hoje, sem explicações, vocês estão aqui fazendo companhia para mim, e esse jovem até me ajudou com meu jantar!” Saímos com a promessa de que Nazir, o jovem que vivia ali perto, voltaria para visitá-los quando o marido estivesse em casa para que ambos pudessem ouvir mais a Palavra.


Cada casa onde encontrávamos abertura, ficávamos impressionados com o bom testemunho dos alunos que voltaram da escola bíblica e como toda comunidad podia ver a mudança na vida deles. Evaristo, um dos alunos que passou por Nacala nesse último semestre, era um bêbado que batia em qualquer pessoa que visse na frente. Só de mencionar seu nome as pessoas logo começavam a se admirar, como alguém como ele poderia ter mudado tanto.


Uma das coisas que havíamos falado durante o evangelismo foi que não precisamos temer o mal, pois quando estamos com Deus Ele é maior. Mesmo que pisarmos cobras ou escorpiões, eles não nos farão mal algum. Ao sairmos dessa casa onde falamos isso, andávamos apressados pois estava escurecendo e e queríamos chegar onde projetaríamos o filme de Jesus aquela noite. Íamos em fila indiana, cerca de 10 pessoas. Eu ia a frente. De repente uma das mulheres no final da fila, a mãe de Evaristo, que havia nos encontrado no caminho e estava nos acompanhando para assitir o filme, gritou: “Uma cobra! Vocês passaram por cima dela e nem viram!” Aleluia! Porque a Palavra de Deus é sempre verdadeira!


Mais de 300 pessoas assitiram o filme. Eu esperava que fosse uma noite mais conturbada, mas todos assistiram em muito silêncio e atenção. Foi a primeira vez que o filme foi mostrado naquela vila. Durante a projeção eu entrei dentro do carro para orar um pouco e senti muita presença de Deus, intercedendo por aquela vila e declarando céus abertos sobre aquele lugar. Foi uma experiência bem forte.


Saímos de Magiga encorajados, sabendo que o bom Deus que começou a boa obra ali a completará.

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